POLÍTICA

Paralisação Nacional Escancara o Colapso Estrutural da Educação Pública no Brasil

No dia 23 de abril, milhares de escolas municipais e estaduais em todo o país fecharão as portas. Mas o que parece ser apenas mais uma paralisação de professores é, na verdade, a face visível de uma crise estrutural que vem sendo empurrada com a barriga há décadas: a falência progressiva da educação pública brasileira.

A mobilização, convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e aderida por entidades estaduais e municipais, é um grito de socorro diante de um cenário marcado por cortes orçamentários, descumprimento da lei do piso, sucateamento das estruturas escolares e desvalorização contínua dos profissionais da educação.

Educação deixada de lado: um histórico de abandono

A Lei do Piso Salarial Nacional do Magistério (Lei 11.738/2008), que estabelece uma remuneração mínima e determina sua correção anual com base no Fundeb, simplesmente não é respeitada em ao menos 18 estados, segundo a CNTE. Em muitos deles, professores recebem abaixo do piso, enfrentam atrasos salariais e parcelamentos, além de trabalhar em escolas com estrutura precária, sem acesso a materiais básicos.

O governo federal, por sua vez, reduziu o orçamento da educação em quase R$ 3 bilhões para 2025, comprometendo programas como merenda escolar, transporte e manutenção das instituições. Enquanto isso, cresce a pressão por resultados, sem qualquer contrapartida em condições dignas de ensino e trabalho.

Campo Grande sem aulas: retrato local de um drama nacional

Em Mato Grosso do Sul, escolas da rede estadual e municipal estarão fechadas. Só na capital, mais de 310 mil alunos ficarão sem aula. A decisão conta com o apoio dos sindicatos da categoria e representa um marco na mobilização local contra a precarização do setor.

Segundo os profissionais, a estrutura das escolas está deteriorada, a falta de concurso público é crônica, e os salários não acompanham a inflação há anos. A realidade do estado é espelho do que ocorre em boa parte do país.

Uma categoria cansada e ignorada

A paralisação é legal. Mas mais do que legal, é legítima. É a resposta de uma categoria que tenta manter viva a missão de educar mesmo diante de um sistema que falha em oferecer o mínimo: condições humanas de trabalho, respeito e reconhecimento.

É também um alerta para a sociedade. Porque o colapso da educação pública não afeta apenas professores — afeta gerações inteiras de brasileiros, condenando jovens à evasão, à desigualdade e à exclusão.

Mais do que protesto: reivindicação por reconstrução

A pauta da paralisação é objetiva: cumprimento integral da Lei do Piso, valorização salarial, investimento em infraestrutura, concursos públicos e garantia de condições pedagógicas adequadas. É um pedido para reconstruir, não reformar.

Em Brasília e nas principais capitais, atos públicos vão expor a indignação de quem sustenta a escola pública com esforço diário. A omissão dos governos e a frieza dos números não abafam mais a revolta que brota das salas de aula mal ventiladas, dos quadros quebrados e dos salários defasados.

Conclusão: o Brasil chegou ao limite. E a educação também.

O dia 24 de abril não será apenas um dia sem aula. Será um marco. Um basta coletivo ao descaso. Uma convocação para que a sociedade reconheça que a luta dos educadores não é corporativista — é civilizatória.

Porque um país que despreza sua educação cava a própria falência moral, econômica e social. E quem ainda não entendeu isso, vai precisar parar — como os professores — e reaprender do zero.

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