Estudo do Banco Mundial acende alerta sobre futuro da Previdência no Brasil
Projeção indica que, sem reformas, idade mínima pode subir drasticamente até 2060. País envelhece, contribuições caem, e modelo atual ameaça entrar em colapso.
O Brasil pode estar caminhando para um cenário dramático no sistema previdenciário: aposentadoria apenas aos 78 anos em 2060. A projeção foi feita pelo Banco Mundial, em estudo divulgado para avaliar a sustentabilidade do regime previdenciário brasileiro diante do rápido envelhecimento da população e da queda nas taxas de contribuição.
De acordo com o relatório, se nenhuma nova reforma estrutural for implementada, a idade mínima para aposentadoria — hoje fixada em 65 anos para homens e 62 para mulheres — poderá subir para 72 anos em 2040 e alcançar os 78 anos em 2060. O alerta é claro: o sistema atual está em desequilíbrio, e o tempo está contra o Brasil.
População envelhece, e a conta não fecha
Segundo o IBGE, a expectativa de vida no Brasil saltou de 66 anos em 1990 para 76,3 anos em 2022, e deve atingir 81,2 anos em 2060. Já a taxa de fecundidade, que era de 2,8 filhos por mulher em 1990, despencou para 1,6 — abaixo da taxa de reposição populacional. Isso significa que teremos menos jovens contribuindo e mais idosos recebendo benefícios.
Hoje, o Brasil tem cerca de 32 milhões de aposentados e pensionistas no Regime Geral da Previdência Social (RGPS). Em 2020, apenas 56,4% da população economicamente ativa contribuía para o INSS, segundo dados do próprio Banco Mundial. Isso representa uma erosão lenta, mas constante, da base arrecadatória.
Reforma de 2019 não basta
A Reforma da Previdência de 2019, sancionada no governo Bolsonaro, impôs uma idade mínima e aumentou o tempo de contribuição. Foi um passo importante, mas, segundo especialistas, insuficiente para conter a bomba-relógio fiscal.
“A reforma de 2019 foi necessária, mas não definitiva. Ela amenizou a trajetória do déficit, mas não reverteu o cenário. Novas medidas precisarão ser adotadas”, explica Daniel Coury, economista e consultor do Banco Mundial.
Em 2023, o déficit do RGPS chegou a R$ 290 bilhões, de acordo com o Ministério da Economia. Com o envelhecimento populacional, esse número pode superar R$ 500 bilhões por ano até 2040, caso nada seja feito.
Recomendações do Banco Mundial
Para evitar a necessidade de uma aposentadoria quase octogenária, o Banco Mundial sugere uma série de medidas:
Unificação das regras entre homens e mulheres, eliminando privilégios históricos;
Equiparação entre trabalhadores urbanos e rurais, cujas diferenças hoje distorcem o sistema;
Revisão dos critérios de pensão por morte, que continuam onerando a Previdência;
Fim de regimes especiais, como o de professores e policiais, que se aposentam mais cedo;
Aumento da idade mínima gradualmente, com base na expectativa de vida.
“O Brasil não pode esperar colapsar para agir. É preciso enfrentar os custos políticos agora, para garantir o mínimo de justiça entre gerações”, afirma Coury.
O risco do colapso social
Especialistas alertam que elevar a idade mínima para 78 anos pode ter impactos sociais severos, especialmente nas camadas mais pobres da população, que enfrentam rotinas de trabalho mais desgastantes e menor expectativa de vida.
“O brasileiro pobre, especialmente do Norte e Nordeste, muitas vezes começa a trabalhar informalmente aos 14 anos. Falar em aposentadoria aos 78 soa como crueldade”, diz Adriana Silva, pesquisadora do IPEA.
Segundo levantamento da Fiocruz, em algumas regiões periféricas do Brasil, a expectativa de vida ainda gira em torno de 68 anos. A desigualdade, portanto, seria ainda mais escancarada.
A conta chegou. E o Brasil precisa decidir quem vai pagá-la: os jovens de hoje ou os idosos de amanhã.
Por Kelly Ventorim